O absentismo laboral é um dos desafios mais significativos para as empresas portuguesas. Com o aumento das doenças relacionadas com o stress, a falta de motivação e a desorganização interna, a ausência dos colaboradores tornou-se um indicador crucial de saúde organizacional.
Em 2024, Portugal registou uma taxa de absentismo de 10,6%, ligeiramente acima da média europeia – um sinal de que as empresas precisam de olhar para o problema não apenas como uma questão de assiduidade, mas como um sintoma de desequilíbrios mais profundos na gestão de pessoas, cultura e bem-estar.
Neste artigo, explicamos o que é o absentismo, quais os seus tipos e causas mais comuns, e analisamos o seu impacto nas empresas, na economia e na motivação dos trabalhadores.
Com base em dados oficiais e nas melhores práticas globais, mostramos ainda como calcular, monitorizar e reduzir o absentismo com estratégias eficazes e o apoio da tecnologia.
Este Artigo Aborda:
- O Que É o Absentismo Laboral?
- Quais os Tipos de Absentismo?
- Quais as Causas Mais Comuns do Absentismo?
- Impacto do Absentismo nas Empresas e na Economia
- Portugal em Contexto Europeu
- O Que Revela o Relatório sobre o Estado Global do Trabalho 2025?
- Como Calcular o Índice de Absentismo?
- Qual o Índice Admissível de Absentismo?
- 6 Dicas para Reduzir o Absentismo
- Considerações Finais sobre o Absentismo
O Que É o Absentismo Laboral?
O absentismo é a ausência não planeada e recorrente de um colaborador, para além do que seria considerado normal numa empresa. Mesmo quando algumas faltas são inevitáveis, o excesso pode indicar problemas de motivação, gestão ou ambiente de trabalho.
Além de afetar o desempenho das equipas, o absentismo aumenta os custos operacionais – seja pela necessidade de substituições, horas extras ou perda de produtividade.
Em Portugal, estas situações estão reguladas pelo Código do Trabalho, que distingue entre faltas justificadas e injustificadas.
Leia também: Faltas Injustificadas em Portugal.
Monitorizar e compreender as suas causas é essencial para manter o equilíbrio e a eficiência no local de trabalho.
Quais os Tipos de Absentismo?
O absentismo manifesta-se de várias formas, e compreender as suas diferenças é essencial para agir de forma eficaz. De modo geral, podemos distinguir quatro tipos principais de absentismo:
1. Absentismo justificado
Ocorre quando o colaborador falta por motivos legítimos, como doença, acidente ou emergências familiares. Estas situações são normalmente reconhecidas pela empresa, desde que devidamente comunicadas e comprovadas.
2. Absentismo injustificado
Refere-se à ausência sem uma razão válida ou sem aviso prévio. Este tipo de comportamento afeta o funcionamento da equipa, sobrecarrega colegas e pode levar a processos disciplinares, conforme previsto na lei laboral Portuguesa.
3. Absentismo presencial
Neste caso, o colaborador está fisicamente no trabalho, mas não cumpre as suas funções de forma produtiva. Dedica tempo a tarefas irrelevantes ou simplesmente não realiza atividades significativas.
O absentismo presencial pode resultar de desmotivação, stress, sobrecarga de trabalho, má comunicação ou falta de clareza nas funções. Embora menos visível, este tipo de absentismo é altamente prejudicial para a produtividade e para o clima organizacional.
4. Absentismo emocional
Aqui, o trabalhador está presente e executa as suas tarefas, mas mental e emocionalmente desligado.
Este fenómeno ocorre quando o colaborador não se identifica com a cultura da empresa, sente-se desvalorizado, desmotivado ou emocionalmente exausto. Mesmo cumprindo o horário, a sua energia e envolvimento são mínimos, reduzindo a qualidade do trabalho e aumenta o risco de abandono da função.
Quais as Causas mais Comuns do Absentismo?
O absentismo no trabalho pode ter múltiplas origens – desde problemas de saúde até fatores ligados à cultura e à gestão organizacional. Alguns exemplos são:
- Saúde física e mental – doenças agudas ou crónicas, stress, ansiedade e burnout são algumas das razões mais frequentes.
- Condições de trabalho inadequadas – espaços desconfortáveis, carga horária excessiva ou falta de pausas regulares podem levar à exaustão.
- Desmotivação e insatisfação profissional – falta de reconhecimento, ausência de perspetivas de crescimento ou tarefas pouco estimulantes afetam o compromisso do colaborador.
- Conflitos e ambiente interno – relações tensas, má comunicação e liderança ineficaz contribuem para um clima laboral negativo.
- Fatores pessoais e familiares – situações externas, como cuidados a familiares, dificuldades financeiras ou problemas conjugais, também têm impacto na assiduidade.
O equilíbrio entre trabalho e vida pessoal e uma cultura de apoio à saúde mental são determinantes para reduzir o absentismo.
Quando as empresas identificam e tratam estas causas de forma proativa e empática, conseguem não só diminuir as ausências, mas também melhorar o envolvimento e a produtividade das suas equipas.
Impacto do Absentismo nas Empresas e na Economia
O absentismo prolongado tem repercussões muito além da simples ausência de um colaborador. Afeta a produtividade, a moral das equipas e a sustentabilidade financeira das organizações.
Impacto do Absentismo na Produtividade e nas Operações
Quando um trabalhador falta repetidamente, o desempenho global da equipa sofre. As tarefas acumulam-se, os prazos atrasam-se e o ritmo de trabalho é interrompido – especialmente quando o colaborador desempenha uma função essencial.
Por exemplo, se um técnico responsável pelo controlo de qualidade faltar frequentemente, pode haver atrasos na produção, falhas nos processos e até perda de clientes devido a entregas comprometidas.
Impacto do Absentismo na Moral e na Cultura Organizacional
O absentismo também mina o espírito de equipa. Quando alguns colaboradores se ausentam regularmente, os colegas acabam por assumir responsabilidades adicionais, gerando sobrecarga, frustração e desmotivação.
Com o tempo, instala-se um ambiente de ressentimento e desequilíbrio, onde a confiança e a cooperação diminuem. O problema não está num dia isolado, mas sim num padrão repetido que enfraquece a cultura da empresa e o sentimento de pertença.
Impacto Financeiro do Absentismo nas Empresas
A ausência de trabalhadores representa custos diretos e indiretos. Entre os principais estão o pagamento de horas extra, a contratação de substitutos temporários e a queda na produtividade global.
Estes custos, somados a atrasos e erros operacionais, reduzem as margens de lucro e comprometem a eficiência interna.
Impacto do Absentismo na Economia Nacional
O absentismo não é apenas um desafio empresarial – é também um problema económico e social.
Quando as ausências se multiplicam em vários setores, a perda de produtividade traduz-se em menor crescimento económico e maior pressão sobre os sistemas de segurança social.
A nível nacional, o absentismo representa milhões de euros em perdas anuais, refletindo a importância de políticas públicas e empresariais voltadas para o bem-estar e a saúde no trabalho.
Portugal em Contexto Europeu
Em 2024, a taxa de absentismo em Portugal atingiu 10,6%, um valor ligeiramente acima da média europeia (10,2%), segundo dados do Eurostat.
Embora não esteja entre os países com piores resultados, o indicador revela tendências preocupantes no equilíbrio entre saúde, motivação e condições de trabalho.
No panorama europeu, as diferenças são marcantes:
- Noruega (18,8%) – apresenta a taxa mais alta, reflexo de uma cultura de reporte médico rigoroso e de sistemas de proteção social robustos, que incentivam o trabalhador a não comparecer quando está doente.
- Portugal (10,6%) – regista ausências mais prolongadas, geralmente associadas a problemas de saúde física e mental, demonstrando fragilidades no acompanhamento clínico e na prevenção do burnout.
- Bósnia e Herzegovina (1,3%) – mostra a menor taxa de absentismo, mas especialistas alertam que o número pode refletir subnotificação de faltas e uma menor cobertura de proteção laboral.

Fonte: Dados Eurostat
O Que Revela o Relatório sobre o Estado Global do Trabalho 2025?
O mais recente Relatório sobre o Estado Global do Trabalho 2025, publicado pela Gallup, apresenta um retrato preocupante sobre o bem-estar e o envolvimento profissional dos trabalhadores em todo o mundo.
As conclusões ajudam a compreender melhor o absentismo e o falta de envolvimento laboral, fenómenos que continuam a afetar a produtividade global e a estabilidade das equipas.
Envolvimento dos Colaboradores em Queda
Apenas 21% dos trabalhadores afirmam sentir-se verdadeiramente envolvidos com o seu trabalho – uma descida de 2 pontos percentuais face a 2023.
Por outro lado, 62% continuam “não envolvidos” e 17% estão ativamente desmotivados, demonstrando um clima de insatisfação crescente nas organizações.
Esta tendência reflete-se em menor produtividade, maior rotatividade e níveis mais altos de absentismo, sobretudo em funções com pouca autonomia ou reconhecimento.
Bem-estar e Equilíbrio em Declínio
Apenas 33% dos profissionais dizem estar a “prosperar” na vida, enquanto 58% estão a “lutar” e 9% afirmam estar a “sofrer”, o valor mais elevado desde a pandemia.
O declínio do bem-estar global está diretamente ligado à sobrecarga emocional, ao stress e à insegurança laboral, fatores que contribuem para o absentismo prolongado e o absentismo presencial.
Emoções Diárias e Fadiga Emocional
O relatório indica que 40% dos trabalhadores sentiram stress na maior parte do dia anterior, e 22% relataram solidão, um aumento face a 2023.
Emoções como tristeza (23%) e raiva (21%) permanecem em níveis elevados, revelando que o mal-estar emocional no trabalho é uma realidade persistente em todo o mundo.
Mobilidade e Intenção de Saída
Metade dos inquiridos (50%) afirma estar ativamente à procura de um novo emprego, sinal de desligamento emocional e de procura por ambientes mais equilibrados.
Embora 51% considerem ser um bom momento para mudar de trabalho, a confiança no mercado laboral caiu 3 pontos percentuais em relação a 2023.
Como Calcular o Índice de Absentismo?
O índice de absentismo é um indicador essencial para medir a taxa de ausências não programadas dos trabalhadores relativamente ao total de dias de trabalho previstos.
A sua função é ajudar as empresas a avaliar padrões de ausência, identificar causas e implementar medidas de melhoria no ambiente de trabalho.
A fórmula é simples:
Índice de Absentismo = (Dias de ausência ÷ Dias de trabalho programados) × 100
Para calcular este índice, soma-se o número total de dias em que os colaboradores estiveram ausentes por motivos não planeados e divide-se esse valor pelo número total de dias de trabalho esperados no mesmo período.
O resultado é então multiplicado por 100 para obter uma percentagem representativa do absentismo na organização.
Qual o Índice Admissível de Absentismo?
Não existe um valor universal considerado ideal para o índice de absentismo, uma vez que este varia consoante o setor de atividade, o porte da empresa e o tipo de funções desempenhadas.
De forma geral, a taxa média de absentismo situa-se em torno de 5%, podendo atingir entre 7% e 10% no setor do retalho, onde as exigências operacionais e o ritmo de trabalho são mais intensos.
Cada organização deve, no entanto, definir os seus próprios valores de referência internos, avaliando padrões de assiduidade, causas de absentismo e as particularidades do setor.
Um software de gestão de presenças ajuda a monitorizar as ausências em tempo real, identificar padrões e agir preventivamente antes que o problema afete o desempenho global.
O mais importante é acompanhar este indicador de forma contínua e adotar políticas de bem-estar e flexibilidade – desde o recrutamento até ao dia a dia de trabalho – para reduzir faltas e promover um ambiente de trabalho saudável e produtivo.
6 Dicas para Reduzir o Absentismo
Reduzir o absentismo exige mais do que controlar faltas – implica criar um ambiente de trabalho equilibrado, saudável e motivador.
As empresas que investem em bem-estar, flexibilidade e reconhecimento conseguem diminuir significativamente as taxas de ausência e aumentar o envolvimento das equipas.
1. Monitorizar presenças com tecnologia
A monitorização precisa das presenças é o primeiro passo para identificar padrões e agir rapidamente.
Soluções como um software de gestão de presenças permitem registar entradas, saídas e faltas em tempo real, ajudando gestores a gerir ausências e justificar imprevistos de forma transparente.
2. Promover a saúde mental e o bem-estar
O stress e o burnout continuam entre as causas mais comuns de absentismo.
Programas de apoio psicológico, mindfulness e gestão emocional reduzem o risco de esgotamento e reforçam o equilíbrio entre vida profissional e pessoal.
Empresas que investem em bem-estar tendem a apresentar menos faltas e maior produtividade.
3. Oferecer horários flexíveis e trabalho remoto
A flexibilidade de horários é uma das políticas mais eficazes na redução do absentismo.
Permitir que o colaborador ajuste o seu horário, evite longos trajetos ou trabalhe remotamente melhora a satisfação e pode aumentar a produtividade entre 10% e 15%.
4. Valorizar e reconhecer o desempenho
O reconhecimento constante é um fator essencial para a motivação.
Colaboradores que se sentem valorizados faltam menos e permanecem mais tempo na empresa.
Pequenas ações – como elogios públicos, programas de incentivos ou oportunidades de crescimento – fazem uma grande diferença na assiduidade.
5. Estabelecer políticas claras de assiduidade
As políticas de ausência e presença devem estar formalizadas e acessíveis a todos.
Gerentes e supervisores devem dar o exemplo, cumprindo e promovendo os padrões definidos.
Estas regras ajudam a criar uma cultura de responsabilidade e transparência, reduzindo conflitos e mal-entendidos.
6. Reforçar benefícios e incentivos
Os benefícios corporativos têm impacto direto na satisfação e na retenção.
Planos de saúde, apoio psicológico, vales de refeição ou programas de bem-estar são incentivos que reduzem o absentismo.
Quando bem planeada, uma política de benefícios melhora a motivação e o comprometimento das equipas.
Considerações Finais sobre o Absentismo
O absentismo é mais do que uma estatística — é um reflexo da saúde emocional, física e organizacional de uma empresa.
Portugal continua acima da média europeia, e os dados da Gallup confirmam que a desmotivação e o stress continuam a crescer entre os trabalhadores. No entanto, há um caminho claro para a mudança: prevenção, escuta ativa e cultura de bem-estar.
Empresas que adotam políticas flexíveis, programas de saúde mental e sistemas de controlo de presenças transparentes, como um software de gestão de presenças, conseguem reduzir as ausências, melhorar o envolvimento e fortalecer o compromisso das equipas.
Num mercado cada vez mais competitivo, cuidar das pessoas é o primeiro passo para melhorar a produtividade e construir organizações sustentáveis.
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