Direito a Desligar: O que Diz a Lei em Portugal?

Com o aumento do teletrabalho e dos modelos híbridos, tornou-se mais difícil separar o tempo profissional do tempo pessoal. A tecnologia facilita a comunicação, mas também pode prolongar o trabalho para lá do horário estipulado.

Para evitar isso, o Código do Trabalho português consagra um princípio essencial: o direito a desligar.

Este direito aplica-se a todos os trabalhadores, independentemente de estarem em regime presencial, remoto ou misto.

O Que é o Direito a Desligar?

O artigo 199.º-A do Código do Trabalho português determina que o empregador deve abster-se de contactar o trabalhador fora do horário de trabalho, incluindo:

  • antes do início da jornada,
  • após o seu termo,
  • fins-de-semana,
  • feriados,
  • férias.

A Autoridade para as Condições do Trabalho (ACT) clarifica que o período de descanso corresponde a todo o tempo em que o trabalhador não está obrigado a prestar trabalho nem a estar disponível para a empresa.

Exemplo: Se o horário for das 9h às 18h, não deve haver contactos fora desse período ou em dias de descanso.

O Direito a Desligar é ainda mais Importante no Teletrabalho

No teletrabalho, as fronteiras entre vida pessoal e vida profissional tornam-se mais fáceis de ultrapassar. Trabalhando em casa, o computador está sempre por perto, os horários tendem a prolongar-se e a comunicação digital pode criar a sensação de disponibilidade permanente.

É por isso que o direito a desligar ganha especial relevância neste regime. A lei reforça que, em teletrabalho, as empresas devem:

  • respeitar rigorosamente o horário acordado,
  • não contactar o trabalhador durante os períodos de descanso,
  • proteger a privacidade do trabalhador e da sua família, incluindo o domicílio.

Sem estas regras, o teletrabalho pode transformar-se numa situação de constante pressão, aumentando o desgaste emocional e o risco de burnout.

Leia também Burnout em Portugal: O Que É, Como Prevenir e Manter a Produtividade.

Quais as Exceções ao Direito a Desligar?

O empregador pode contactar o trabalhador apenas em casos de força maior – situações excecionais que ameaçam gravemente a atividade da empresa e exigem resposta imediata.

A ACT refere como exemplos:

  • terramoto,
  • incêndio,
  • inundação,
  • cortes de energia,
  • acontecimentos graves que prejudiquem significativamente a atividade.

Fora destas situações, não existe justificação legal para contactar o trabalhador no período de descanso.

Trabalhadora remota cansada, usufrindo do seu direito a desligar

Foto de Vitaly Gariev no Unsplash

Que Contactos são Proibidos?

Qualquer forma de contacto que interrompa o descanso do trabalhador é proibida, nomeadamente:

  • chamadas telefónicas,
  • mensagens de email ou chat,
  • pedidos de reunião,
  • visitas presenciais,
  • comunicações por aplicações internas.

O meio não importa – o que conta é a interrupção do descanso.

Violar o Direito a Desligar Traz Consequências para as Empresas?

A violação do direito a desligar é uma contraordenação grave. As coimas podem variar entre 612 € e 9.690 €, dependendo do volume de negócios da empresa.

Além disso, a legislação considera discriminatório penalizar um trabalhador por recusar contactos fora do horário, incluindo consequências em:

  • avaliações de desempenho,
  • progressão na carreira,
  • prémios de assiduidade ou produtividade.

Se a violação for repetida e grave, pode mesmo configurar assédio moral.

Como um Relógio de Ponto Digital Ajuda a Garantir o Direito a Desligar?

Um relógio de ponto digital pode ser uma ferramenta importante para garantir que o direito a desligar é realmente respeitado. Ao registar automaticamente o início e o fim do dia de trabalho, bem como pausas e horas extra, permite que a empresa acompanhe as horas trabalhadas sem recorrer a contactos fora de horas ou a métodos intrusivos.

Estas plataformas definem limites claros:

  • impedir registos de horas fora do horário definido,
  • alertar para excessos de tempo de trabalho,
  • planear turnos e cargas de trabalho de forma equilibrada.

Para o trabalhador, isto traduz-se em maior proteção, transparência e previsibilidade. Para a empresa, assegura o cumprimento das obrigações legais e reduz o risco de incumprimento do direito a desligar.

Quando utilizado de forma ética e alinhada com o Código do Trabalho português, um relógio de ponto digital é um aliado valioso para promover equilíbrio e respeito pelos períodos de descanso do trabalhador.

Nota de Advertência Importante

Ao elaborar este artigo, tentamos torná-lo preciso, mas não garantimos que as informações fornecidas estejam corretas ou atualizadas.

Portanto, recomendamos enfaticamente que procure orientação de profissionais qualificados antes de agir com base em qualquer informação fornecida. Não aceitamos nenhuma responsabilidade por quaisquer danos ou riscos incorridos pelo uso da informação aqui presente.

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