Produtividade na Austrália estagna apesar de jornadas longas

Foto por Caleb no Unsplash

A produtividade na Austrália estagnou, apesar dos níveis recordes de emprego e do aumento nas jornadas semanais de trabalho, revelou um novo relatório da Comissão de Produtividade, conforme noticiado pelo The Guardian em 28 de maio de 2025.

 

O relatório traça um cenário preocupante: os australianos estão trabalhando mais horas do que nunca, mas a produtividade na Austrália permanece estagnada. As conclusões alertam que essa tendência pode comprometer o crescimento econômico futuro e o padrão de vida da população, a menos que haja mudanças nos investimentos e nas práticas empresariais.

 

O crescimento da produtividade no último ano foi de apenas 0,07%, número que o CEO do Grupo da Indústria Australiana, Innes Willox, classificou como “um erro de arredondamento” – sem representar avanços reais em produtividade no país.

 

Segundo a Comissão, essa estagnação reflete uma tendência de uma década, encoberta apenas temporariamente por uma “bolha de produtividade” durante a pandemia.

 

Esse impulso momentâneo, observado nos dois primeiros anos da COVID-19, perdeu força até o final de 2023. O retorno às longas jornadas após a pandemia não trouxe ganhos em eficiência.

 

Alex Robson, vice-presidente da Comissão de Produtividade, alertou que o aumento nas horas trabalhadas sem melhora nos resultados indica falhas estruturais: “Você pode ganhar mais se trabalhar mais tempo, mas isso não é uma fórmula para prosperidade no longo prazo”.

 

Por que trabalhar mais horas não está compensando

 

De acordo com o relatório, grande parte do tempo adicional trabalhado não foi acompanhado de investimentos empresariais suficientes em sistemas e tecnologias que aumentem a eficiência.

 

Setores de serviços, como saúde, educação e assistência social, agora representam cerca de 80% do Produto Interno Bruto (PIB) da Austrália. Esses setores têm apresentado baixo avanço em produtividade. Só no setor da saúde, a queda da produtividade do trabalho contribuiu com 18% para o declínio nacional, em parte devido à entrada rápida de novos trabalhadores com pouca experiência.

 

O que é Produto Interno Bruto?

O Produto Interno Bruto, ou PIB, é o valor total de bens e serviços produzidos em um país durante um período específico.

 

A construção civil e a habitação também foram destacadas como áreas com forte atraso em produtividade, prejudicadas por fluxos de trabalho ultrapassados e falta de coordenação entre os envolvidos.

 

Grupos patronais, como o Australian Industry Group, apontam a regulação excessiva, exigências de conformidade complexas e os desafios econômicos como barreiras ao investimento em inovação.

 

Por outro lado, os sindicatos acusam práticas de gestão ineficazes e resistência à modernização como os principais obstáculos. A secretária do Conselho de Sindicatos Australianos (ACTU), Sally McManus, declarou: “A responsabilidade é sim das empresas – está na forma como gerem seus negócios e em sua recusa em investir em tecnologia”.

 

Segundo a ACTU, as empresas não estão investindo o suficiente em tecnologias modernas. A adoção de automação, serviços em nuvem e inteligência artificial (IA) ainda é limitada. Esse subinvestimento mantém operações presas a processos manuais e sistemas legados, dificultando ganhos de produtividade.

 

Nick Davis, do Instituto de Tecnologia Human da Universidade de Tecnologia de Sydney, reforça: “À medida que os trabalhadores ganham experiência, é essencial garantir que saibam utilizar bem essas ferramentas, que sejam bem orientados, e que a forma de trabalhar seja redesenhada para gerar melhores resultados”.

 

Comissão: trabalho remoto não é o vilão

 

O relatório aborda preocupações de que o crescimento do trabalho remoto após a pandemia teria impactado negativamente a produtividade. No entanto, a Comissão não encontrou evidências que sustentem essa hipótese. A queda está associada ao aumento das horas trabalhadas após o fim dos confinamentos, e não ao modelo híbrido ou remoto.

 

Antes da pandemia, apenas 11% dos australianos em idade ativa trabalhavam de casa ao menos uma vez por semana. Em agosto de 2024, esse número saltou para 36%. Apesar da mudança, o modelo híbrido, que combina dias presenciais e remotos, mostrou-se neutro ou positivo para a produtividade.

 

“Não é preciso estar todos os dias no escritório para aproveitar os benefícios das interações presenciais. O trabalho híbrido tende a ser benéfico, ou pelo menos não prejudica a produtividade”, aponta o relatório.

 

O documento também destaca que o trabalho remoto ajuda a reduzir distrações, faltas e pausas, o que normalmente contribui para aumentar a produção. Ainda assim, alerta que modelos totalmente remotos podem prejudicar trabalhadores menos experientes, que dependem de mentoria presencial.

 

As conclusões reforçam que os desafios da produtividade não estão no local de trabalho, mas em como o trabalho é estruturado, apoiado e gerido.

 

Resposta do governo à produtividade na Austrália

 

Para enfrentar esses desafios, a Comissão lançou cinco consultas públicas sobre: o setore da sáude, tecnologia e digitalização, capacitação da força de trabalho, preparação para o carbono zero e modernização da prestação de serviços.

 

Além disso, Steven Kennedy, secretário do Tesouro, afirmou que a média de crescimento da produtividade australiana caiu de 1,8% para 0,8% nos últimos 20 anos. O governo comprometeu-se com um investimento de 900 milhões de dólares australianos em reformas para estimular a concorrência e está a estudar medidas para incentivar a inovação.

 

O que empresas e gestores podem fazer?

 

A Austrália não sofre por falta de esforço – sofre pela falta de estratégia inteligente e investimento em soluções tecnológicas. O futuro do trabalho será moldado não por mais horas diante do computador, mas por melhores ferramentas, liderança mais clara e fluxos de trabalho modernos.

 

Para reverter a crise na produtividade australiana, é necessário:

 

  • Repensar modelos de gestão ultrapassados
  • Investir em ferramentas digitais e treinamento de funcionários
  • Priorizar qualidade em vez de quantidade de trabalho

 

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